Thomás Tosta de Sá

 

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O Brasil vive um momento importante em que o espírito empreendedor de seu povo busca uma alternativa à economia tradicional na relação empresa/ emprego.

Uma recente pesquisa conduzida pela organização mundial Endeavor junto a universitários brasileiros indicou que cerca de 64% deles pretendem criar suas próprias empresas, em vez de se empregarem numa grande corporação ou partirem para o funcionalismo público.

Em 1981, junto com Roberto Teixeira da Costa, ex-presidente da CVM, organizamos na Associação Comercial do Rio de Janeiro e na Fiesp o primeiro seminário de “venture capital”, instrumento do mercado de capitais existente nos Estados Unidos e voltado para apoiar startups e pequenos e médios empresários daquele país.

Peter Brooke, fundador da Advent e um dos conferencistas, perguntou-me se no Brasil as universidades tinham cursos de empreendedorismo e se havia uma rede de incubadoras para startups, de forma a apoiar os jovens empreendedores.

Na época, à exceção de um curso de empreendedorismo do IAG da PUC-RJ, não tinha conhecimento da existência de incubadoras nem de cursos voltados para disciplinas com esse fim.

Três fatores levaram o governo dos Estados Unidos, no fim da década de 1970, a adotar novas políticas de apoio aos empreendedores: um estudo da Fundação Nacional de Ciência, no período 1953-1973, constatou que as pequenas empresas produziam 24 vezes mais descobertas por dólar investido que as grandes empresas; a pesquisa realizada em 1979 pelo MIT indicava que dois terços do crescimento total dos empregos nos Estados Unidos devia-se às pequenas empresas (com menos de 20 empregados); e o retorno sobre investimentos de empresas na bolsa norte-americana situava-se em níveis históricos de 10% ao ano, enquanto as pequenas empresas apoiadas pelo “venture capital” situava-se ao redor de 25%.

O resultado dessa nova política, que entre outras medidas autorizou os fundos de pensões dos Estados Unidos a investirem no “venture capital”, proporcionou um novo fluxo de recursos para esta indústria e também para o de “private equity”.

Foram mais de 30mil startups, pequenas e médias empresas de capital fechado apoiadas por esses fundos nas décadas de 1980 e 1990.

A geração de empregos nestas duas décadas também se deve a esse boom do empreendedorismo apoiado pelo mercado de capitais: foram criados 18,3 milhões e 21,6 milhões de empregos, respectivamente.

No Brasil, em março de 1994, quando presidia a CVM, editei a Instrução 209, que regulamentava os fundos mú- tuos de investimento em empresas emergentes.

Anos depois, Luiz Leonardo Cantidiano regulamentou os fundos de investimento em participações. Esses fundos passaram a ser conhecidos respectivamente como fundos de “venture capital” e “private equity”.

Em 2000, foi fundada a ABVCap, associação que congrega mais de 200 associados entre gestores de fundos, investidores e prestadores de serviço da indústria.

Em seu congresso anual, em abril deste ano, com a presença de mais de 500 participantes, destacouse que os R$ 100 bilhões de capital comprometidos em 2013 para investimentos haviam crescido nada menos que 35% no ano passado.

Exemplos de sucesso de empresas apoiadas pelos fundos são muitos: Kroton, Senior Solution, Qualicorp, Abril Educação, Anima, Poit Energia, Flores On Line, Óticas Carol, entre outras.

Finep e BNDES criaram fundos de “seed capital”, e investidores-anjo e “family offices” buscam oportunidades para investir em startups.

O Porto Digital de Recife é um sucesso de startups fora do eixo Sul-Sudeste.

Mais de 400 incubadoras em todo o país são associadas à Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).

No âmbito de sua Estratégia Nacional de Acesso ao Mercado de Capitais, o Instituto Ibmec desenvolveu um portal voltado para informar, educar e capacitar empreendedores.

É a hora e a vez do empreendedor brasileiro que deseja ser a grande empresa de amanhã.

 

Thomás Tosta de Sá é presidente do Instituto Ibmec e ex-presidente da CVM