Via Marcos Hashimoto (Revista PGN)

Saiba como usar a ferramenta para identificar uma oportunidade de negócio e fazer uma conexão com seu propósito, seus sonhos, seus ideais

Era uma vez um senhor que tinha como sonho colocar um telefone em cada casa do Brasil. Para isso, ele fundou uma empresa que levava linhas para todos os lugares, inclusive cidades que eram tão distantes e tão pequenas que não justificavam o investimento da empresa. Mesmo assim, ele insistia em levar as linhas – e chegava mesmo a se pendurar nos postes para conectar aquela cidade com o mundo.

Bonita história, não? É mais fácil decidir comprar uma linha telefônica dessa empresa do que acreditar em um anúncio em panfletos de outra companhia, não é? Bem, essa companhia usou storytelling para vender linhas telefônicas, um recurso cada vez mais usado na publicidade para despertar o desejo de compra dos consumidores, envolvendo-os em histórias sensíveis, que geram empatia e com as quais os futuros consumidores se identificam.

Mais recentemente, os empreendedores descobriram essa ferramenta, usando-a inicialmente com a mesma finalidade: contar a sua história para atrair a simpatia de consumidores e, assim, vender mais produtos. Mas agora o storytelling encontrou outro objetivo – unir a história do empreendedor e do seu negócio com a identificação de uma missão e propósito.

O Instituto Empreender Endeavor foi uma das primeiras instituições no Brasil a usar o recurso de storytelling para disseminar a cultura empreendedora no país. Por meio da série de vídeos intitulada ‘Day1’, vários empreendedores contam suas histórias, a maioria carregada de emoção, para inspirar mais jovens a buscarem a carreira empreendedora como opção de vida.

O que pouca gente sabe é que a prática do storytelling é um caminho bastante útil para o futuro empreendedor identificar uma boa oportunidade de negócio e descobrir seu senso de propósito e missão. Ao narrar sua história, ele mergulha no passado e enfatiza pontos importantes da sua vida, que acabam por definir a pessoa que o empreendedor se tornou. Muitas dessas experiências passadas podem influenciar a escolha do negócio, até mesmo inconscientemente. Um jovem que nunca conseguiu se adequar ao modelo formal e rígido de ensino pode ter decidido abrir uma escola. Uma pessoa que tem saudades das histórias que seu pai contava pode inaugurar um negócio de artefatos para a hora de dormir. Uma moça cujos pais eram obrigados pela profissão a mudar de cidade ou país a cada dois anos pode montar uma agência de viagens e mudanças.

Se você está procurando uma ideia de negócio para montar, resgate seus valores na sua história de vida, nas experiências que viveu, nas pessoas que conheceu, nos lugares que frequentou. Encontrar uma oportunidade de negócio nessas circunstâncias torna a empresa não só mais crível, mas com mais significado e valor, pois o empreendimento pode resgatar coisas boas que você viveu ou resolver problemas que você enfrentou.

Ao preparar a sua narrativa, pense nos três componentes do storytelling: o EU, o NÓS e o chamado. A primeira parte, o ‘eu’, serve para criar o clima da história e situar o empreendedor na narrativa, começando sempre por algum evento importante em sua vida, seja na idade recente ou nos primórdios, como criança. Um momento marcante ou vários momentos que se repetem, criando um padrão, desejado ou indesejado, que explica a origem das ideias do empreendedor – uma dor, uma necessidade, um problema a resolver. A segunda parte, ‘nós’, serve para criar empatia. É quando se inclui outras pessoas na história, ajudando, atrapalhando, completando. Neste momento, temos um encontro do empreendedor com as pessoas que ouvem seu relato, que se identificam em pontos da história.

A terceira parte é sempre um chamado para a ação, o momento da conexão do ‘eu’ e do ‘nós’ com uma causa, um propósito, representando uma ligação que vai despertar, na publicidade, o desejo do consumidor de ter aquele produto. Ou, no caso da empresa, é onde se atribui um significado para o projeto ou negócio que o empreendedor está montando.

Quando o empreendedor consegue criar sua narrativa com esses três componentes interligados e bem amarrados, ele consegue encontrar a fonte de inspiração de suas ideias, seu propósito, seus ideais, seus sonhos. É quando surge a energia que alimentará sua determinação e perseverança, a motivação que fortalecerá a superação das barreiras e obstáculos que surgirão em sua trajetória empreendedora.