Empreendedora pensando

Via Exame

Uma parcela dos empreendedores aprende, quando aprende, na base da tentativa e erro. O problema é que são erros antigos e recorrentes que outros já cometeram. Empreendedor sábio deveria aprender com os erros dos outros e com os seus, já que é difícil não errar, mas estes erros deveriam ser novos na tentativa de acertar inovando.

E como aprender com os erros antigos? Estudando, entre outras coisas, os ensinamentos clássicos da administração e os adaptando para a sua realidade. E como qualquer clássico, o ensinamento começa no questionamento, passando pela reflexão e daí para a atualização e respectiva ação.

1. O que é um negócio
Se Peter Drucker, o maior dos pensadores da Administração, perguntasse para você o que é um negócio? O que responderia? A resposta dele dada em 1954 continua atual. Todo o quinto capítulo do seu The Practice of Management discute o que é um negócio. Para Drucker, um negócio é uma organização que existe para desenvolver clientes. E o lucro não é a explicação, a causa ou mesmo o racional no comportamento e decisões de um negócio, mas um teste para a sua validade.

2. Qual é o seu negócio
Da mesma forma, se Theodore Levitt, um dos principais professores de administração de Harvard de todos os tempos, fizesse esta pergunta, qual seria a sua resposta? Seu artigo Miopia de Marketing publicado em 1960 deveria ser lido por todo empreendedor que se acha visionário e pretende criar grandes negócios longevos.

Neste clássico, Levitt explica, entre outras coisas, que as empresas ferroviárias, que estava entre as maiores corporações dos Estados Unidos no século XIX, desapareceram ou reduziram drasticamente seus negócios no século seguinte, pois acreditavam que estavam no negócio de ferrovias e não no setor de transportes. Sua empresa atua no mercado da solução (transporte) e não no produto ou serviço em si (ferrovia). Esta pegadinha ocorre até hoje para os que não entendem que a Cacau Show também concorre com O Boticário.

3. Como vender mais com menos esforço
Eis uma pergunta que todos os empreendedores sempre buscam uma boa resposta. E sempre continuarão ajustando a mira, pois o alvo sempre será provisório já o único elemento constante dos negócios é a mudança. O mesmo cliente amanhã já não será o mesmo.

Mas depois do Professor Jerome McCarthy ter proposto o conceito de Marketing Mix, em 1960, a empresa precisa tomar decisões a respeito de variáveis controláveis em quatro dimensões: Produto, Preço, Praça e Promoção. O problema do uso dos 4Ps é que a empresa não deveria mirar na venda em si. Isto é um alvo dos míopes. O alvo correto é no cliente apóstolo, embaixador do produto, que compra, é leal à marca e ainda divulga para seus amigos e conhecidos.

5. Como criar a melhor empresa
Só se cria a melhor empresa por meio de colabores motivados, caso contrário a organização será apenas uma obra de ficção mercadológica. E refletir sobre a Teoria dos Dois Fatores proposto pelo psicólogo Frederick Herzberg pode ser uma oportunidade para o empreendedor economizar dinheiro.

Mas isto não deveria ser a motivação para ler o artigo One More Time, How Do You Motivate Employees?, publicado em 1968 na Harvard Business Review e desde então, o artigo mais requisitado da revista. Herzberg explica que o que motiva mesmo os funcionários são aspectos como a perspectiva de crescimento, desenvolvimento pessoal, responsabilidade e identificação com o propósito da empresa.

Outros fatores, que chamou de higiênicos, como política da empresa, condições de trabalho, relacionamento com outros colaboradores e salário, se em estiverem abaixo das expectativas geram insatisfação, mas se estiverem dentro ou acima, não necessariamente são motivadores.

6. Plano de negócio
Atualmente há uma corrente de empreendedores que atacam o plano de negócio, mas se esquece de que a parte mais importante não é o P de plano, mas o DCA. Proposto inicialmente na década de 1920 pelo engenheiro Walter Shewhart, o PDCA ganhou notoriedade com o professor Edwards Deming.

O PDCA é um ciclo que se planeja o que deve ser feito, executa-se o que foi planejado, avalia-se o que foi feito e tomam-se as ações para manter o que funcionou bem e corrigir o que precisa ser melhorado no próximo ciclo de planejamento. O PDCA é um conceito de melhoria contínua baseando-se nos erros e acertos cometidos pela empresa.

Os conceitos clássicos elevam as perspectivas e, por isso, criam novos horizontes para os empreendedores visionários.

Marcelo Nakagawa é professor de empreendedorismo do Insper.