Via O Estadão

É muito comum vermos empresas que falam da importância de recrutamento e que se preocupam em ter funcionários motivados. Mas até onde vai o compromisso da empresa com o funcionário? Entender como os colabores realmente se sentem em diferentes fases da carreira e quais são as suas expectativas é essencial para criar um relacionamento duradouro e diferenciado. Nesse sentido, uma das empresas que possui uma cultura bem interessante é o Cirque du Soleil.

Quando vamos a um espetáculo e observamos o show, não imaginamos a estrutura por trás das cortinas. Fundado em 1984 no Canadá, o Cirque du Soleil hoje é uma empresa com mais de 4.000 funcionários em todo o mundo, sendo que cerca de 1.300 são artistas. Para buscar talentos, eles viajam para vários países, o que garante uma característica bem internacional dentro da empresa, uma vez que possuem funcionários de mais de 50 países que falam mais de 25 idiomas. Desde que surgiu, os espetáculos já atraíram mais de 150 milhões de espectadores.

Para eles, um grande desafio não é apenas encontrar um talento, e sim manter este talento. Na busca por artistas, o Cirque de Soleil viaja vários países para descobrir pessoas talentosas, às vezes vão a lugares bem remotos. Entretanto, quando encontram alguém muito talentoso, a empresa se preocupa em entender se aquela pessoa se encaixa na cultura da empresa e só a contratam se tiver mais alguém daquela região igualmente talentoso. Ou seja, eles se preocupam com bem-estar da pessoa e fazem de tudo para que ela esteja com alguém da sua comunidade, pois sabem que a rotina da empresa é puxada e que é necessário muito preparo para os artistas aguentarem o ritmo e a distância dos familiares e de seu país de origem.

Outra preocupação ocorre durante os espetáculos que saem em turnê. Além da estrutura de viajar com equipamentos, figurinos e de levar vários profissionais para shows itinerantes, eles lidam com imprevistos e com o fato de que muitos artistas podem se machucar, ficar doente ou mesmo estar indispostos em alguns dias de apresentação. Por isso, todos os dias os shows são revisados e até mesmo refeitos de acordo com as necessiadades do elenco. A empresa faz questão de verificar, diariamente, se todos os artistas têm condições de se apresentar e caso alguém não esteja bem o espetáculo é remodelado para se adequar a isso. Se for necessário preservar um artista que precisa de repouso ou que se machucou, eles refazem o espetáculo, cortam alguma parte do show ou fazem substituições visando o bem-estar de todos e garantindo que o público tenha uma ótima experiência.

Um terceiro ponto curioso é o programa de transição de carreira que o Cirque du Soleil oferece aos artistas. A empresa sabe que chegará uma hora em que os seus artistas precisarão deixar o palco e têm consciência de que eles podem ter uma ótima carreira pós-palco. E ciente de que muitos deles sempre se dedicaram ao mundo das artes, este momento pode ser muito difícil tanto para o emocional quanto para se recolocar no mercado de trabalho. Por isso, eles oferecem o programa “Crossroads”, que tem o objetivo de preparar os artistas para este momento de transição de carreira e de ajudá-los a encontrar novos desafios profissionais quando chegar o momento. Desde que o Cirque du Solil implantou este programa, em 2003, muitos de seus artistas que se afastaram dos palcos viraram treinadores ou diretores de espetáculos, enquanto outros passaram a fazer parte da equipe de Casting ou da equipe administrativa da empresa.

O Cirque du Soleil nos dá uma visão completa sobre gestão de pessoas e podemos observar uma forma muito humana na maneira como tratam seus colaboradores. Olhar para dentro da empresa e ter clareza de que os funcionários são os principais pilares da instituição e o cliente mais valioso da empresa é um ponto super importante que traz resultados positivos para todas as esferas, refletindo tanto em um ambiente agradável de trabalho, quanto na entrega de um serviço ou produto de qualidade e, consequentemente, no lucro da empresa.