Via Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios

Para o criador da Brasil Game Show, maior feira de games da América Latina, setor é um dos poucos que não foram afetados pela crise

Brasil Game Show de 2014; mais de 300 mil pessoas são esperadas em 2015 (Foto: Divulgação)

Brasil Game Show de 2014; mais de 300 mil pessoas são esperadas em 2015 (Foto: Divulgação)

O mercado de games só cresce no Brasil. Em 2014, o país, considerado o 11º maior consumidor do mundo, faturou cerca de US$ 1,28 bilhão com o setor. Para mostrar como o interesse brasileiro neste mercado vem aumentando, os investimentos em software e publicidade para jogos saltou de US$ 58 bilhões em 2010 para US$ 91 bilhões neste ano, segundo boletim do Sebrae.

Para Marcelo Tavares, criador da Brasil Game Show (BGS), maior feira de games da América Latina, que acontece até 12 de outubro na cidade de São Paulo, o setor é uma das pouquíssimas categorias no Brasil que segue forte mesmo no momento de crise. Em entrevista exclusiva a Pequenas Empresas & Grandes Negócios, Tavares afirmou que a BGS de 2015 é uma demonstração de força do meio. “Mesmo em um ano difícil o mercado responde positivamente. Como prova disso, vemos os estandes maiores, com mais lançamentos e convidados internacionais”, diz Tavares. Para ele, este é um mercado que ainda oferece muitas oportunidades para empreendedores que estiverem preparados.

Além dos grandes players, como Sony e Microsoft, a edição deste ano aumentou seus olhares para novos empreendedores, que ainda estão buscando seu espaço no mercado. Com a ampliação do “Pavilhão Indie”, área dedicada aos estúdios nacionais menores, em cinco vezes (agora são 36 estandes), Tavares acredita que a feira pode ajudar o mercado brasileiro a se inserir em um contexto internacional.

A Garage 227, criadora do game Shiny, é um exemplo da força dos empreendedores brasileiros no mercado. Rafael Lima, 26 anos, cofundador do estúdio, conta que a história da empresa mudou depois que participaram da feira no ano passado. “A gente aprendeu muito na primeira BGS. Depois de conversarmos com representantes das grandes empresas, percebemos o quão burocrático e difícil era tirar um projeto do papel”, afirma.

“Apesar de muita coisa não ter virado, as dicas dadas pela Microsoft e pela Sony fizeram toda a diferença. Assimilamos tudo para trazer um produto melhor e mais pronto para o mercado”, diz. Com essa ajuda, os jovens conseguiram levar o Shiny, que chegará aos consoles em 2016, até os executivos da Microsoft, durante o evento da empresa pré-BGS deste ano, que ocorreu uma noite antes da feira começar.

Game Shiny, criado pela Garage 227 (Foto: Divulgação)

Além da Garage 227, o evento também contou com a presença de Persius Duaik, fundador do Duaik Studios e criador do jogo Aritana e a Pena da Harpia, primeiro game indie brasileiro a estar disponível para Xbox One.

Histórias como a da Garage 227 e do Duaik Studios devem se tornar cada vez mais comuns. “O mercado indie foi um dos que mais cresceu no Brasil. É muito bom ver estúdios fecharem contratos durante a feira. Eu acho importantíssimo comprar e testar jogos independentes. A tendência para o ano que vem que é aumentar e ampliar essa área mais uma vez”, afirma Tavares.

Governo

Além das gigantes do mercado, outros nichos têm notado o potencial dos empreendedores na área de games. Prova disso é o lançamento de um novo programa para desenvolvedores de jogos, criado pelo Ministério da Cultura. No projeto, que entrará em vigor no ano que vem, o governo prevê distribuir aportes de R$ 1 milhão para empreendedores desta área. “É uma ação que está em construção e parte da premissa de que há um importante mercado de jogos no Brasil. O país é um grande usuário e consumidor, mas nós temos aqui poucos jogos brasileiros desenvolvidos”, disse Manoel Rangel, diretor-presidente da Ancine. Ainda em elaboração, o edital só vai contemplar empresas brasileiras com exclusividade. Segundo o diretor-presidente da Ancine, a ideia é investir no desenvolvimento de jogos eletrônicos que trabalhem a cultura brasileira.

Por onde começar

As ações de estímulo, sejam governamentais ou de eventos, ainda não são suficientes para que a produção nacional cresça. Hoje, existem 200 empresas de games no Brasil. Dessas, apenas 48 exportam seus jogos para outros países. Em um mercado com tamanho potencial, ainda há muito onde investir. E, para saber por onde começar, não basta talento e criatividade para ter sucesso. Gestão, planejamento e networking são fatores chave para um estúdio se destacar no mercado.

Como afirma Jean Duarte, 31, diretor de marketing da Rising Digital, entrar nessa área parece um bicho de sete cabeças, mas é só a sombra de uma lagartixa na parede. “É totalmente viável a pessoa começar a trabalhar nessa área. Ela só precisa aprender um pouco de cada coisa no início para descobrir qual é a sua paixão.” Mais do que paixão, é preciso levar a sério a brincadeira. Thaís Barros Beldi, CEO da Smyowl, estúdio que acaba de lançar o jogo Neymar Jr. Quest, inspirado na obra de Maurício de Souza, reforça a ideia de que um projeto criativo só é válido se existe um time bom por trás. “É gestão, trabalho e estratégia. Tem que ter uma estrutura para saber onde você quer chegar com o produto que tem”, afirma.

Neymar Jr. Quest, novo jogo da Smyowl (Foto: Divulgação)

Organização é outro ponto relevante. Abrir uma empresa de games exige reunir talentos de várias áreas e saber administrá-los. “É bom reunir pessoas que gostem de games, mas com qualificações diferentes. Tem que ter um lado programador, um de designer, outro animador 3D. Além disso, é fundamental pensar no roteiro e no enredo do jogo”, diz Tavares.

Estar em dia com a tecnologia e pensar sempre no futuro são passos essenciais para não ficar ultrapassado em poucos meses. Por isso, planejamento estratégico deve fazer parte do dia a dia. “A gente tem muito talento, mas falta experiência no âmbito empresarial para aproveitar todo o potencial”, afirma Tavares.