Os donos da rede de sanduíches Num Pang captaram US$ 1,5 milhão com anjos. Erica Gannett for The Wall Street Journal

Com os ricos ficando mais ricos, há muito mais empresários se voltando para pessoas abastadas, conhecidas como “anjos”, em busca de capital para expandir novos negócios.

No ano passado, por exemplo, investidores-anjos aplicaram US$ 24,8 bilhões de capital próprio em 70.730 empresas dos Estados Unidos, 41% a mais do que os US$ 17,6 bilhões que aplicaram em 57.225 empresas em 2009.

Paralelamente, a riqueza dos americanos atingiu um novo recorde no primeiro trimestre deste ano, graças à alta das bolsas e dos preços dos imóveis.

O que está impulsionando essa tendência é a demanda de pequenos empresários como Ratha Chaupoly, um dos donos da Num Pang Sandwich Shop, na cidade de Nova York. A rede especializada em sanduíches tinha duas pequenas lanchonetes em 2013, mas não gerava receita suficiente para cobrir os custos de abrir uma terceira.

No ano passado, ele e seu sócio decidiram procurar seis pessoas de alta renda, ou anjos, que deram ao seu negócio “uma injeção externa” de US$ 1,5 milhão no total, em troca de participações acionárias.

“O crescimento orgânico é difícil e os bancos estão muito exigentes para emprestar hoje em dia”, diz Chaupoly. Ele usou o capital dos anjos para expandir a Num Pang para seis lanchonetes e 150 funcionários.

Os anjos geralmente investem seus recursos pessoais, em vez de ir atrás de capital alheio como fazem os investidores de risco. A maior parte deles sonha em dar uma grande tacada — embora muitas vezes as coisas não aconteçam assim.

 

De fato, cerca de metade das mais de 500 mil empresas abertas anualmente nos EUA fecham as portas dentro de cinco anos, segundo a Administração de Pequenas Empresas dos EUA. Um terço sobrevive dez anos ou mais. Outro fator de risco para investidores em firmas de capital fechado é o fato de elas não serem obrigadas a divulgar publicamente seu faturamento ou outros dados financeiros importantes.

Para proteger investidores comuns contra quebras de empresas novatas (“startups”) ou contra fraudes, o Congresso americano estabelece limites para quem pode se qualificar a investir em firmas de capital fechado. Esses investidores “credenciados” são pessoas que tiveram renda anual de US$ 200 mil ao longo dos últimos dois anos ou casais com renda anual de pelo menos US$ 300 mil. Também pode se qualificar quem tiver no mínimo US$ 1 milhão em ativos, sem contar a residência principal.

Se esses limites são adequados ou não é uma questão que está no centro do debate sobre quem deve ter permissão para ser um investidor-anjo.

Alguns argumentam que os limites, estabelecidos em 1982, não são elevados o suficiente para proteger a geração que hoje está por volta dos 60 e 70 anos, que economizou para a aposentadoria e agora tem reservas de mais de US$ 1 milhão.

Uma ideia em discussão é simplesmente aumentar o limite de acordo com a inflação, de modo que apenas os indivíduos com um patrimônio líquido de US$ 2,5 milhões, ou US$ 493 mil em receita anual, se qualificariam. Mas os que se opõem ao aumento do piso dizem que isso iria limitar drasticamente o número de pessoas capazes de aplicar seu próprio dinheiro em empresas de rápido crescimento, justamente as que geram empregos nos EUA. Por exemplo, apenas 3,7 milhões de lares americanos iriam se qualificar segundo os limites ajustados pela inflação, comparado com os 8,5 milhões atualmente elegíveis para investir em novatas, segundo estimativas do governo dos EUA.

Pisos mais altos eliminariam muitos profissionais liberais de 30 e 40 anos, diz Jim Connor, da Sand Hill Angels, um grupo de investidores-anjos da Califórnia.

Outros concordam. “Vão se perder muitos investimentos de US$ 20 mil a US$ 30 mil” que podem fazer uma grande diferença para uma pequena empresa buscando capital para se expandir, diz Jeffrey Sohl, diretor do Centro de Pesquisas de Investimentos de Risco da Universidade de New Hampshire e que também se opõe a elevar os valores mínimos. Ele estima que haja uns 300 mil investidores-anjos ativos neste ano.

Por enquanto, os empresários dizem que vão continuar a recorrer aos anjos, buscando quantias que variam de US$ 150 mil a US$ 1,5 milhão. O investimento médio dos anjos em 2013 ficou em torno de US$ 350 mil.

“Conhecíamos essa lanchonete e foi uma oportunidade de nos envolvermos com algo que estava bem ali na nossa frente”, diz Daniel Bartfield, advogado de Nova York e um dos seis investidores individuais que aplicaram um total de $ 1,5 milhão na rede de sanduíches Num Pang, no ano passado.

Bancos e outras fontes tradicionais de financiamento para empresas “querem ver as vendas, receita e outros números que a maioria das novatas ainda não tem”, diz Jean Brownhill Lauer, uma das fundadoras da nova-iorquina Sweeten.com, um mercado on-line para projetos de reforma residencial com três anos de existência. No ano passado, a Sweeten captou US$ 1,3 milhão com um total de dez investidores-anjos. A empresa tem hoje seis funcionários.

Os anjos “proporcionaram uma injeção de capital para acelerar o crescimento”, acrescenta Lauer. “Sem esses recursos, não poderíamos ter o movimento que temos hoje, não depois de apenas um ano.”

“Não há dúvida de que os investimentos de anjos estão se tornando mais comuns”, diz Ted Zoller, diretor do Centro de Estudos Empresariais da Universidade da Carolina do Norte. Ele dá crédito a programas da televisão americana, como “Shark Tank” e “The Profit”, por popularizar a captação de recursos para empresas novatas nos últimos anos e diz esperar que a tendência “continue a evoluir, inovar e se democratizar” no próximo ano, principalmente on-line.