Via The Wall Street Journal
 
 

Bloomberg News

Para este início de ano, o The Wall Street Journal perguntou a pessoas bem-sucedidas no mundo das finanças e outros setores sobre os melhores ou piores investimentos que já fizeram. Os comentários a seguir mostram lições valiosas que podem ser aprendidas tanto de apostas que se concretizam como daquelas que dão errado. (Nota: Alguns comentários foram editados para facilitar o entendimento.)

Eugene Fama, Prêmio Nobel de Economia (2013) e professor de Finanças da Universidade de Chicago:

Meu melhor investimento é uma política de 50 anos de nunca investir com gestores ativos.

Já o pior, US$ 15 mil perdidos em um investimento na década de 60 em uma empresa de capital fechado de exploração de petróleo. A revolução do xisto poderia ter salvado [a empresa], mas ela já tinha fechado.

William Bernstein, neurologista e gerente de investimentos da gestora de recursos Efficient Frontier Advisors:

O pior investimento que eu já fiz foi cerca de 30 anos atrás e foi uma lição que aprendi a duras penas — negociando platina. Investidores individuais não deveriam operar futuros de commodities. O preço desmoronou e eu perdi algumas dezenas de milhares de dólares. Eu estendi a lição também para a especulação em geral, e desde então ela tem gerado dividendos.

O melhor, em 1994, foi em ações que comprei da telefônica mexicana Telmex, uma combinação de sorte e astúcia. Elas estavam muito baratas e meu dinheiro se multiplicou por 20. Hoje, eu entendo que seria mais seguro ter investido num fundo de índice de mercados emergentes. A Telmex poderia ter quebrado, mas não vários mercados inteiros.

Dolly Parton, cantora, compositora e sócia do Parque Temático Dollywood, no Tennessee:

O melhor, definitivamente, é o parque temático Dollywood, a realização de um son ho pessoal. Ele diverte famílias do mundo todo e dá emprego para as pessoas da região — a minha gente. E tem ajudado no crescimento de toda a região.

Jonathan Tisch, presidente do conselho de administração do Loews Hotels & Resorts:

Pior: No início de 2000, eu investi no restaurante Chingalle, no distrito de Meatpacking, em Nova York. Infelizmente, devido a um período agitado em Wall Street e ao impacto dos atentados de 11 de setembro nos negócios da região sul de Manhattan, o restaurante fechou. Toda vez que eu e minha esposa comemos no Meatpacking, hoje uma região florescente, eu lamento por ter estado um pouco à frente do nosso tempo.

Mellody Hobson, presidente da gestora de fundos mútuos Ariel Investments:

Minha educação superior foi meu melhor investimento.

Eu era a mais jovem de seis filhos de uma mãe solteira, uma empreendedora batalhadora. Nós fomos despejados, os telefones cortados porque não podíamos pagar as contas.

Minha mãe dizia: “Essa educação se pagará sozinha”. Então eu contraí dezenas de milhares [de dólares] em dívida estudantil, mas paguei rapidamente. Meu salário anual inicial era US$ 35 mil e todo mês eu pagava cerca de cinco vezes a parcela que devia em meus empréstimos. Muitas pessoas questionam o valor da educação universitária hoje, mas acho que a matemática é indiscutível. Ela está diretamente relacionada com renda.

Anne Stausboll, diretora-presidente do Sistema de Aposentadoria dos Empregados Públicos da Califórnia:

Pior: Empresas que não praticam boa governança corporativa. O elo entre boas práticas de governança e valor para o acionista é tão forte que às vezes nós investimos mais em empresas que não têm bons resultados com a meta de melhorar a governança e, consequentemente, as finanças.

Terrance Odean, professor de Finanças, Universidade da Califórnia, Berkeley:

No início de 1989, eu li que a terra sob o Palácio Imperial em Tóquio valia mais que todas as terras da Califórnia. Eu liguei para meu corretor e perguntei como eu poderia apostar numa queda do mercado imobiliário de Tóquio. Dias depois, ele me disse que eu poderia comprar “put warrants” (opções de venda a um preço determinado de derivativos) do índice Nikkei [uma aposta na queda das maiores ações japonesas]. Sem outras pesquisas — ou reflexão — comprei US$ 20 mil dessas opções.

O Nikkei, no entanto, continuou subindo e minhas opções sumiram. Os US$ 20 mil viraram pouco mais de US$ 2 mil

Mas eu não considerei vendê-las. O golpe emocional de perder US$ 18 mil ou US$ 20 mil seria o mesmo, e a possibilidade de o investimento se recuperar depois de eu vender era mais preocupante.

Em 1990, o Nikkei caiu e minhas opções começaram a se recuperar. Eu comecei a vender e fiz algum dinheiro com as últimas opções que vendi. Mas eu perdi pelo menos US$ 2 mil. E pior: o Nikkei continuou caindo e se eu tivesse segurado, eu teria lucrado muito — provavelmente cerca de US$ 100 mil.

Embora eu tenha perdido dinheiro, foi um investimento valioso. Aprendi que eu não posso cronometrar os mercados e que uma aposta que eventualmente dará retorno não te fará bem se você não for capaz de mantê-la. Mas a maior lição que eu aprendi é que é muito mais difícil vender para realizar prejuízo do que lucro.

Paul Volcker, ex-presidente do Fed, o banco central americano (1979-87):

O pior investimento financeiro que eu já fiz foi passar tanto tempo no governo.

O melhor investimento em satisfação pessoal foi passar tanto tempo no governo, frustrante como poderia ser.

Burton Malkiel, professor emérito de Economia na Universidade Princeton e autor de ‘A Random Walk Down Wall Street’ (‘Uma Caminhada Aleatória por Wall Street’, em tradução livre):

Eu comprei várias ações individuais em minha vida. Algumas foram muito boas e outras nem tanto. O melhor e mais consistente investimento que já fiz foi em um fundo de índice incorporando todo mercado de ações.

Investir é divertido. Se grande parte do seu dinheiro é colocado em fundos de índice, e você quer investir em algo que está nas margens, invista. Eu invisto. Eu me lembro mais dos sucessos do que dos fracassos. Comprei um pouco do Alibaba Group na abertura de capital. Eu continuo comprando porque é divertido e porque não vou me enganar que vou conseguir retorno em excesso.

John C. Bogle, fundador do gigante dos fundos Vanguard Group:

O melhor investimento que fiz foi um que tive que resgatar.

Eu investia no Wellington Fund desde 1951, quando fui trabalhar no Wellington Management, e 15% do meu salário, ou US$ 37,50, ia todo mês para o plano de aposentadoria da firma.

Então, no fim dos anos 60, o fundo se tornou agressivamente arriscado e abandonou seu foco nas ações seguras e pagadoras de dividendos. Ele acabou com o pior resultado em 10 anos entre todos os fundos mistos.

Em 1978, o fundo estava quebrado e eu fiquei determinado a consertá-lo. Nós estabelecemos metas e estratégias claras, incluindo maior participação de títulos de dívida e uma lista de 50 ações que pagavam dividendos para escolher. O fundo se afastou da beira do abismo e superou o desempenho médio de fundos similares em 27 dos 35 anos desde 1979.

O fundo [hoje chamado de Vanguard Wellington] renasceu e é uma questão de orgulho pessoal para mim. Eu ainda recebo cartas de investidores do Wellington Fund me agradecendo. No fundo também estão cerca de 20% de minhas economias para a aposentadoria, depois de eu ter feito contribuições significativas para a caridade.

William Sharpe, prêmio Nobel de Economia (1990) e professor emérito de Finanças da Universidade de Stanford:

Quando ensinei investimentos a estudantes de MBA em Stanford, comecei a primeira aula escrevendo um número de telefone no quadro. Depois, disse aos alunos que essa era a informação mais valiosa que receberiam de mim.

Provavelmente você tenha adivinhado que era o número da Vanguard. Claro, hoje isso seria o endereço de um website. E outras firmas de investimento provavelmente deveriam ser incluídas. De qualquer forma, minha devoção aos fundos de índices amplamente diversificados e de baixo custo não enfraqueceu.

Rob Arnott, presidente do conselho de administração da empresa Research Affiliates:

Meus melhores e piores investimentos foram uma estratégia envolvendo opções de venda a descoberto e opções de compra altamente alavancadas do S&P entre 1997 e 2002, uma técnica para lucrar quando a flutuação dos preços das ações diminui. Eu estava apostando na maior parte do tempo que as fortes oscilações de preços iriam diminuir. Em 2001, eu tinha cerca de 10% de meu patrimônio líquido investido nessa estratégia, porque as opções eram sistematicamente supervalorizadas na época.

Na manhã de 11 de setembro de 2001, eu soube que havia perdido uma grande parte de meu patrimônio líquido em um instante (cerca de 35%), mas eu realmente não me importei porque o evento foi um lembrete extremamente importante para todos nós de que a vida, a família, o amor e a saúde são preciosos; a magnitude da perda financeira, na verdade, tornou a irrelevância dessa perda muito mais evidente.

Também foi o melhor investimento da minha vida, por causa desse lembrete do que é importante e porque meu passo seguinte foi — como alguém que gosta de contrariar — comprar ações agressivamente quando o mercado reabriu. Eu sempre amei fortalecer estratégias e classes de ativos cujos desempenho decepcionavam.

Aaron Vermut, diretor-presidente da Prosper Marketplace, empresa de empréstimos pessoais diretos:

Um dos meus piores investimentos foi um que fiz este ano no setor de fraturamento hidráulico para exploração de petróleo na base permiana do Texas. Cometi o erro clássico de investir em um setor sobre o qual não sei nada porque o negócio parecia simples — grande potencial de alta e risco limitado, e as pessoas envolvidas eram investidores inteligentes e conhecedores de recursos naturais. A realidade é que eu estava seguindo uma tendência. Eu cheguei atrasado para a festa e desconhecendo os riscos. A lição que aprendi (de novo) é optar pelo que você conhece e ter a certeza de que entende em que está investindo, não seguir tendências.

Daniel Loeb, fundador da firma de investimento Third Point:

Pior: Aconteceu enquanto eu estava na universidade e negociava ações em meu tempo livre. Eu havia ganhado US$ 120 mil e investi tudo em uma ideia que me animava muito: Puritan-Bennett, fabricante de respiradores médicos. A empresa sofreu fortes perdas depois que seus produtos foram associados a várias mortes. Nos anos que levaram para eu recuperar minhas perdas, tive muito tempo para absorver a importante lição de não colocar todos os ovos na mesma cesta.

Ian Schrager, empresário do setor de hotéis, um dos fundadores do Studio 54 e presidente do conselho do Ian Schrager Co.:

O melhor investimento que eu fiz até hoje é o tempo que passei com minha esposa e com minha família assim como o tempo que eu passo com as pessoas com quem trabalho há muito tempo. Os dividendos que recebo por isso ultrapassam de longe qualquer valor que eu tenha recebido de todos os meus investimentos combinados.

(Colaboraram Jason Zweig, Liam Pleven, Laura Saunders, Christina Binkley, Anna Maria Andriotis, Robert Sabat, Dan Fitzpatrick, David Benoit e Brian Costa.)