Via Endeavor
Nelson Sirotsky não tem apenas um, mas três dias que marcaram sua trajetória
A jornada de muitos empreendedores começa do sonho. Outras vezes, o caminho vem traçado. Para todos existem os imprevistos, com maiores dificuldades quanto maior for o barco a tocar, ou quanto mais agitada for a água dos mares onde navegam.
Nelson Sirotsky, presidente do Conselho de Administração da RBS, um dos maiores grupos de mídia do país, pode dizer que sua jornada começou cedo, acompanhando os passos do pai. Seu destino veio quase definido e foi intenso o processo de conduzir uma empresa familiar num mercado com imensos desafios de gestão e inovação. Mas os resultados são surpreendentes.
Se ele se encontrasse hoje com o jovem radialista que vislumbrou uma oportunidade de conquistar a audiência cobrindo a Copa do Mundo, esse jovem provavelmente lhe diria: ouse novamente. Porque foi assim que Nelson Sirotsky realizou sua primeira vitória profissional – aos 20 anos, na Rádio Gaúcha, comandada por seu pai, Maurício Sirotsky.
Na época, a rádio não tinha verba para acompanhar os jogos. A proposta foi descartada e fez com que o jovem idealista pedisse demissão ao seu pai – o primeiro de seus três Day 1. Nelson voltou após um acordo e insistiu na ideia. Conseguiu patrocínios para cobrir a Copa e a iniciativa mudou os rumos da emissora.
Desde então, Nelson Sirotsky acompanhou cada etapa da criação do Grupo RBS, trabalhando junto com o pai, e depois de sua morte, com o tio Jayme Sirotsky. Em 1992, com 37 anos, Nelson assumiu a presidência – Day 1 número 2.
Excelência num mercado em transformação
Num setor em que a gestão familiar já se mostrou muitas vezes desastrosa, a RBS se destaca pelo profissionalismo, excelência e crescimento constante. Mantém um olhar atento aos novos rumos de um mercado onde a tecnologia vem transformando absolutamente tudo. De hábitos de leitura a consumo de mídia, do papel para o digital, da tela para o mobile, a audiência altera os rumos da mídia em todos os meios. Mas nada afeta a penetração e a credibilidade dos veículos da RBS – em todos eles, o foco é em ser o melhor.
“A rbs investe na metamorfose porque acredita no jornalismo de qualidade, sério, responsável e independente a serviço do cidadão”.
Com suas atividades concentradas em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, a RBS tornou-se um ícone da mídia nacional, mesmo sem participar dos grandes mercados. Emprega mais de mil jornalistas, possui o maior jornal do RS, o Zero Hora, além de outros sete títulos de mídia impressa, e a RBS TV é a maior afiliada da Rede Globo, com 18 emissoras.
Os negócios do grupo incluem ainda sete emissoras de rádio, onde se destaca a Rádio Globo, aquela que antes não tinha nem a verba para cobrir a Copa. Novos negócios incluem empresas de eventos, logística, publicações e a e.Bricks, que atua nas áreas de mídia digital, e-commerce e mobile.
Num contexto que mais parece areia movediça, o desafio é constante em todos os processos.
A migração das verbas de publicidade acompanha a migração da audiência. O novo jornalismo agora inclui interatividade, redes sociais, recursos de áudio e vídeo. Com isso, o Grupo RBS tem investido forte em tecnologia para dar sustentabilidade ao negócio.
“A indústria jornalística precisa reformatar o modelos de operação para sobreviver e continuar a ser relevante no seio da sociedade”.
Em parceria com o Parque Científico da PUC, a TECNOPUC, equipes da RBS criaram uma plataforma tecnológica voltada para produtos de jornalismo e estudam o tema a partir da ótica tecnológica do consumidor. Acompanhar as tendências faz com que o jornalismo da RBS seja ainda mais relevante e conectado com seu público.
Entre outras iniciativas de ponta em 2013, foi lançada uma plataforma que reúne as previsões e o pensamento de alguns dos mais respeitados profissionais de comunicação do mundo sobre a era digital: The Communication Revolution. Pesquisar e compartilhar conhecimento é a atitude de um mundo colaborativo em que o Grupo RBS encontra-se totalmente inserido.
Transição e uma nova visão de futuro
Ao longo dos anos, a RBS também construiu fortes vínculos com as comunidades locais. E isso não depende de novas tecnologias. Está presente nas raízes que sustentam a credibilidade do Grupo, acompanhando a postura de Nelson Sirotsky: “A crença do Warren Buffett [de que melhores jornalistas fazem uma sociedade melhor] é a nossa crença”.
Quando Nelson Sirotsky transmitiu a presidência do Grupo RBS ao seu sobrinho Eduardo Sirotsky em 2012, a empresa certamente não era a mesma. E foi justamente esse o terceiro e mais recente Day 1 de Nelson. O mar ficou agitado muitas vezes, mas o comandante desse imenso navio construiu, com sua equipe, sólidos fundamentos de gestão e inovação para adaptar-se aos novos rumos da audiência e do mercado de mídia.
Visualizar todo esse contexto de desafios e transformações constantes é essencial para traçar o perfil de um profissional que, sim, herdou uma empresa, mas também a transformou.