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Anote aí: carne de capivara, anta e porco selvagem, um pouco de peixe, bastante nozes, arroz, milho, mandioca e bananas. Muito carboidrato. É sério: pesquisadores dos Estados Unidos descobriram que, seguindo a dieta acima, os índios tsimanes – tribo da Amazônia boliviana – podem ser considerados os seres humanos com os corações mais saudáveis do planeta. O resultado da pesquisa foi recentemente divulgado no jornal Lancet e apresentado na American College of Cardiology no mês passado.

Para chegar a tal conclusão, durante 15 meses, foi avaliada a quantidade de cálcio acumulada nas artérias coronárias de 705 tsimanes. Esse teste procura por sinais de vasos sanguíneos obstruídos e determina a probabilidade de um ataque cardíaco em cada indivíduo. Uma pontuação entre 100 e 400 significa que a doença coronariana leve é altamente provável. Da amostra, 596 (85%) dos 705 tsimanes não tinham cálcio acumulado nas artérias coronárias, ou seja, pontuação zero; 89 (13%) pontuaram entre 1 e 100; e 20 (3%) tinham pontuações acima de 100.

Em termos de dieta, a gordura consumida todos os dias pelos tsimanes é bastante baixa (14%) quando comparada à do cidadão médio dos Estados Unidos (34%). Outra comparação interessante é o percentual de calorias com origem em carboidratos: 72% (pelos índios bolivianos) contra 52%. Não há dúvida de que, pelos dados da pesquisa, os tsimanes tendem a experimentar uma sobrevida significativamente maior que a nossa – seres urbanos acostumados ao consumo regular de produtos industrializados.

É claro que outros fatores devem ser levados em conta. Ninguém na tribo fuma nem bebe, e cada tsimane, até os com mais de 60 anos, chega a dar mais de 15 mil passos diários; o norte-americano médio dá cerca de 5 mil passos num dia comum. “Mens sana in corpore sano”, caro amigo leitor. E um último dado: quando os tsimanes começaram a utilizar canoas motorizadas e consumir comida processada, os níveis de colesterol aumentaram.

O resumo da pesquisa pode ser acessado aqui.


Ricardo Largman, jornalista formado pela PUC-RJ em 1982, é crítico de cinema, consultor de Comunicação e assessor de Imprensa do Instituto IBMEC.