O Lado B do Empreendedorismo

É inevitável. Quase sempre que se fala em empreendedorismo ou startups, os relatos começam ou terminam falando de grandes aquisições, injeções massivas de capital, fundos de investimento aplicados na empresa e por aí vai.

É a concretização do sonho daqueles que se despediram para colocar o seu projeto para andar. Todos atingem o sucesso e sempre muito rápido. Parece que todas as startups são futuros facebooks e os seus fundadores, milionários. Até Hollywood faz filmes desse glamouroso mundo. É tudo maravilhoso.

Meus amigos, vamos a um choque de realidade: A banda não toca assim!

O sucesso nem sempre se atinge e muito menos de forma rápida. E está longe de ser um mundo de glamour.

É importante ter noção que a vida de um empreendedor não é um mar de rosas. E é importante saber isso para que não desanimem e desistam nas primeiras contrariedades e obstáculos que vão, de certeza, cruzar o vosso caminho.

Não tenho o propósito de desanimar ninguém e sim alertar os empreendedores para a realidade e para que estejam preparados para o que os espera. Tendo uma noção mais clara da realidade, será mais fácil encarar as dificuldades do dia-a-dia.

São vastos os desafios que vão surgir, mas enumero alguns dos que surgiram no meu percurso de empreendedor – que são ao mesmo tempo causa e consequência uns dos outros – que considero mais importantes e que facilmente surgem em todas as startups:

No âmbito pessoal:

• Nem sempre o apoio familiar e de amigos acontece como desejado: Nem sempre vão aceitar ou entender a nossa vontade de empreender e em alguns casos nem têm noção sequer do que fazemos. Arriscamo-nos a ouvir frases como: “Você realmente faz o quê?” ou “ quer dizer então que você está sem emprego?”. E quanto mais tempo demorarem os resultados a aparecer maior a resistência e criticas a essa opção. Então, estejam preparados para enfrentar resistência dos mais próximos. Só porque não entendem, isso não significa que eles estejam certos e você errado. Um verdadeiro empreendedor será resiliente o suficiente para não desistir.
• Esqueçam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional: Principalmente na fase inicial do empreendimento, pensar em equilíbrio entre esses dois mundos é um luxo que não vai ser possível alcançar. Qualquer empreendimento, para que vingue, vai exigir dedicação total, onde a vida social não tem espaço. Se já é empreendedor e a sua vida pessoal não se ressente, parabéns. Mas possivelmente o seu empreendimento não está a receber a atenção que precisa.
• Aprendam a lidar com críticas e invejas: Assim que o empreendimento começa a mostrar resultados, manifestações de inveja ou ressentimentos começam a surgir. Acontece. Vocês terão que tomar decisões para bem da empresa que eventualmente não irão agradar a toda a gente. Sejam eles colaboradores, parceiros de negócios, fornecedores ou clientes. Haverá sempre alguém disposto a criticar essas decisões.
• E haverá também pessoas mesquinhas que terão inveja do vosso sucesso. Quanto maior o sucesso, maior a quantidade de inimigos que surge. Não se deixem afetar pelo negativismo que essas pessoas transmitem nem fiquem desanimados. Vocês batalharam muito por esse sucesso e portanto é mais que merecido.

No âmbito Financeiro

• Não alimentem a ideia de ir ganhar dinheiro rápido: Na verdade, é precisamente o oposto. O objetivo é que um dia a vossa empresa apresente altos lucros ou que vocês a vendam por uma boa quantidade de dinheiro. Mas até lá, saibam viver com pouco recursos. Mesmo que a vossa empresa consiga captar capital de investidores, esse dinheiro deverá ser canalizado para ela e nunca para si. Quem investe, coloca dinheiro na empresa e não no seu bolso. Portanto, mentalizem-se e preparem-se para tempos de vacas magras. Uma pessoa com verdadeiro espirito empreendedor terá capacidade para suportar essa fase de restrição orçamental olhando o futuro.
• Mas Será necessário fazer dinheiro: A verdade é que se é um negócio, tem de fazer dinheiro para manter a empresa e para que ela possa evoluir de forma sustentável. Devem conseguir lidar com a falta de dinheiro. Andar constantemente a fazer contas, sem saber se haverá dinheiro pode ser muito estressante. Não é fácil ter que lidar com a sensação de nunca saber quanto dinheiro vai entrar no fim do mês. Terão de aprender a lidar com essa pressão.

No âmbito profissional

• Acabou o horário 09.00-18.00 horas: E isso é bom? Não sei. Cabe a cada um avaliar mas o que acontece é o seguinte: Acabou esse horário porque agora, para o empreendedor, o trabalho nunca termina.Será necessário trabalhar de dia, de noite, fins-de-semana, feriados. E se pensam que podem acalmar quando a coisa está a correr bem, desenganem-se. Não será hora de acalmar e sim de começar a correr atrás de mais alguma coisa. Um verdadeiro empreendedor está constantemente a procurar algo novo: um processo, um produto, um serviço, um mercado, algo.
• Sabe aquela ideia brilhante que teve que amadureceu e desenvolveu?Assim que a tirar do papel e a colocar em prática, prepare-se para perceber que ela está cheia de falhas. Isso não significa que a ideia não é boa e que o projeto não foi bem planejado mas a verdade é que quando começamos a interagir com os intervenientes que rodeiam a empresa, começamos a receber feedbacks, ideias, criticas, sugestões que não tínhamos pensado. É impossível antecipar todos os cenários e variáveis possíveis. Devemos sim aceitar todas essas informações e aprimorar o produto ou serviço que estamos a querer oferecer.
• Difícil formar a equipa certa para trabalhar: a tarefa de contratar funcionários é um desafio que poucos consideram quando começam a empreender e que é essencial e quase sempre uma dor de cabeça. Até encontrarem a equipa certa vai levar tempo. Aliás, não só funcionários como também os parceiros e sócios do negócio. Aqui, um à parte muito importante. Muitos empreendedores costumam enfrentar a difícil decisão de trabalhar ou não com amigos. Parece simples a decisão. Se são amigos, porque não hão-de trabalhar juntos? Acreditem, não é tão simples assim. Pode ser o melhor dos mundos ou uma descida ao inferno, colocando em risco a amizade ou a empresa ou ambas as coisas.
• Os Clientes testam a nossa sanidade: Os clientes e/ou consumidores são essenciais a qualquer empresa e são um dos seus maiores ativos. Eles estão cada vez mais informados, com cada vez com mais oferta de produtos e serviços e portanto cada vez mais exigentes. Deve-se promover receber o máximo de feedback possível para oferecer o melhor produto ou serviço possível. É bom receber informações dos nossos clientes mas será impossível agradar a todos. Devemos escutar e responder a todos mas não deve ser esquecido quem está no controlo e qual é o público-alvo.
• Não farão o que gostam mas sim o que for necessário: Não devem querer fazer tudo sozinhos mas terão que fazer de tudo. Gostem ou não. Ser dono de empresa não é querer fazer o que gostam e sim o que é necessário. O título do cargo é muito bonito mas só serve para o cartão-de-visita. E outra coisa: Como empreendedores, não pensem que serão chefes de vocês próprios. Pelo contrário, trabalham sempre para alguém, sejam eles clientes, empregados ou investidores.
• Precisam saber vender: A atividade comercial é muito importante. Daí um destaque só para ela. Não sabem vender? Aprendam. Não gostam? Não interessa. Como referido no ponto anterior é preciso saber fazer de tudo e aí inclui-se a necessidade de vender. Não só os produtos ou serviços que a empresa oferece mas também a ideia, o projeto. Vocês terão de ser os maiores fãs da vossa empresa e do vosso serviço. Se vocês não acreditam no que oferecem terão muita dificuldade em vendê-lo. E Se não souberem vender bem não haverá nenhum motivo para alguém comprar.

No âmbito Emocional

• A necessidade de um conhecimento Pessoal: Ser empreendedor obriga que o empreendedor tenha um elevado conhecimento de si mesmo e do que pretende. O projeto começa e termina em vocês. No início esse sentimento parece bem atrativo mas depois pode tornar-se bem estressante trabalhar sem um posto, sem funções definidas a executar e sem alguém que indique a direção a seguir. Será necessário ser bastante confiante e seguro nas decisões a tomar.
• Montanha Russa de Emoções: Vai haver períodos extremos de emoções. Paixão, dúvidas, confusões, medos, fadigas, alegrias. Vão ter momentos de extrema solidão. Alguns dias vão acordar cheios de energia e em outros nem vão ter vontade de sair da cama. Por vezes as coisas evoluem à velocidade da luz e outras em que parece que simplesmente tudo parou. Será necessário calibrar muito bem o fator emocional.
• Estejam preparados e mentalizados que as coisas demoram a acontecer. Sejam pacientes: Preparem-se para a ideia que um negócio não atinge o sucesso de um dia para o outro. Na grande maioria das vezes demora muito tempo e são precisos muitos anos de luta. Seja a falta de clientes, a equipa de trabalho, condições de mercado, concorrência, falta de dinheiro, processos internos ou outro motivo qualquer, estejam preparados mentalmente para que as coisas demorem pelo menos duas vezes ou três mais que o previsto. Sejam persistentes.
• Devem estar preparado para saber quando algo chegou ao fim: O empreendedor tem de estar preparado para saber quando é necessário dar um ponto final no seu projeto. Nem todos chegam a bom porto. Isso não deve ser enfrentado como um fracasso e sim um aprendizado. Por vezes é difícil abandonar algo em que empenhamos tanto esforço mas não se pode ficar preso a uma coisa que não terá futuro. É duro mas por vezes, inevitável.

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Nuno Bernardes é CEO da CoteiSeguro e Partner da BusinessInc. Empreendedor, Consultor, Mentor, Blogger ocasional, palestrante e aspirante a Investidor Anjo. Especialista em Planejamento Estratégico, Marketing, Design Thinking e Finanças, em áreas como Internet, Bens de consumo, e Banca. Apaixonado por tudo o que diga respeito a Startups e empreendedorismo e Marketing Digital.