Via O Estado de São Paulo
Uma onda de startups está sacudindo os serviços financeirosoferecidos no mundo e no Brasil. Conhecidas como “fintechs”, essas novas empresas estão mudando a forma de as pessoas pagarem as compras, administrarem contas, investirem seu dinheiro e contratarem empréstimos.
De anéis para realizar pagamentos a plataformas que concedem empréstimos em 30 segundos, elas vêm chamando a atenção dos bancos, que se aproximam para não ficarem para trás.
Desde que abriu sua primeira conta-corrente, o administrador de empresas Pedro Conrade, de 23 anos, ficava inconformado com o serviço prestado. “Todo mundo tem de ir à agência resolver qualquer problema. Nunca gostei disso”, diz. No ano passado, ele fundou a Controly.
Embora não seja um banco, a startup oferece uma opção à conta-corrente tradicional, baseada em um cartão pré-pago, cujos gastos são gerenciados via smartphone.
O aplicativo é, portanto, o grande diferencial. Em vez de ir ao banco abrir uma conta, a pessoa baixa o programa e recebe o cartão em casa. O extrato convencional dá lugar a gráficos com a evolução dos gastos. Para fazer transferências, basta selecionar um contato na agenda ou no Facebook.
Além disso, o app gerencia as reservas de dinheiro. “Os jovens são movidos por sonhos. Eles definem os objetivos e nós reservamos um pouco do saldo toda semana”, diz Conrade. Segundo a Controly, o dinheiro dos clientes é gerenciado pela Acesso Card, uma instituição financeira autorizada pelo Banco Central.
A startup começou a oferecer o serviço há três meses e já reúne 3 mil usuários. A meta é somar 100 mil até 2017. A Controly já passou por duas rodadas de investimento, nas quais levantou cerca de R$ 4 milhões.
O dinheiro será investido em infraestrutura e preparativos para atender às normas do Banco Central para se tornar uma instituição financeira no futuro.
A Controly não é a única empresa a tentar surfar na onda das fintechs no Brasil. Startups que apostam em outros segmentos também vêm se destacando aos poucos.
É o caso da Nubank, que oferece um cartão de crédito sem taxas vinculado a um aplicativo pelo qual o usuário acompanha compras. Criada há um ano, a empresa diz ter 600 mil interessados na fila de espera pelo cartão.
No ramo de seguros, a startup Bidu, criada em 2011, investiu na integração de sua plataforma com a de grandes seguradoras e entrega propostas de adesão em apenas 30 segundos.
“Oferecemos mais ou menos o que o Buscapé oferece para os sites de comércio eletrônico”, resume Maurício Antunes, diretor de marketing da Bidu.
Enquanto as apostas brasileiras em fintech estão em fase inicial, startups internacionais mais consolidadas já olham para cá. É o caso da alemã Kreditech, citada por especialistas como uma das mais inovadoras do setor.
A empresa deve oferecer empréstimos e cartões pré-pagos, gerenciados por meio de aplicativos, no Brasil, até a metade de 2016. “Já temos parcerias com instituições financeiras locais para começar a operar e estamos em busca de um diretor no Brasil”, afirmou um porta-voz da empresa ao Estado.
Fundada em 2012, a Kreditech usa a análise de grandes bancos de dados, tecnologia conhecida como Big Data, para cruzar até 20 mil aspectos sobre cada cliente – o que inclui, além do histórico de crédito, informações das redes sociais e de sites de comércio eletrônico.
“Os bancos tradicionais não conseguem oferecer serviços bancários para todos, só atendem a um grupo privilegiado que tem histórico de crédito”, diz o porta-voz do serviço. A empresa tem 200 funcionários em nove países e já recebeu mais de 300 milhões em investimentos.
Cooperação
O setor financeiro tradicional percebeu na interação com as empresas disruptivas uma oportunidade de se preparar para o futuro. Ao mesmo tempo, as startups veem nas parcerias uma maneira de validar o negócio, ganhar experiência e receber investimentos.
No Brasil, as principais instituições financeiras têm se movimentado de diferentes formas para dialogar com as fintechs.
O programa InovaBra, do Bradesco, por exemplo, promove desde 2014 a interação do banco com startups que tenham potencial de desenvolver modelos de negócios e produtos relacionados a serviços financeiros.
Ao fim do programa, que dura 10 meses, o banco pode até mesmo adquirir parte da empresa. “Esse não é o foco, mas a interação é boa para os dois lados. O Bradesco pode ser o grande primeiro cliente dessas startups”, observa o gerente de inovação do Bradesco, Fernando Freitas.
Em setembro, o Itaú lançou, em parceria com o Redpoint e.ventures, um espaço de coworking na zona sul de São Paulo chamado Cubo. Ele comporta até 50 startups, não só fintechs. “O Cubo fomenta a tecnologia. Há uma troca de aprendizado importante e nossos executivos passam tardes lá”, afirma o diretor executivo do Itaú Unibanco, Ricardo Guerra.
Caixa Econômica e Banco do Brasil ainda estão mais voltados para a inovação dentro de casa, mas sem ignorar o que acontece fora. “É uma onda e nós queremos surfar nela. Estamos avaliando a melhor forma”, explica o gestor de inovação da Caixa, Rogério Saab.
No exterior, a empresa norte-americana Mastercard lançou o programa Start Path em 2013, mas só abriu inscrições para startups brasileiras este ano. Trata-se de parcerias de seis meses entre a empresa e as fintechs selecionadas.
“Boa parte da nossa estratégia digital consiste em parceiras ou investimentos em startups. Há muita inteligência fora da empresa, que tem de ser absorvida”, diz Marcelo Theodoro, chefe de produtos digitais para a MasterCard Brasil. Entre as inovações que já vieram de parcerias e aquisições, ele destaca a autenticação de clientes por meio de selfies e por batimento cardíaco.
O professor de empreendedorismo da Fundação Getúlio Vagas (FGV/SP), Newton Campos, diz que as fintechs vão ganhar espaço nos próximos anos. “Elas trazem processos menos burocráticos e baratos, com melhor experiência para o usuário. Por isso, as grandes empresas estão abrindo as portas.” (As informações são do jornal O Estado de S.Paulo)