Menino pula em rio: quatro motivos explicam por que aprender a empreender e a nadar são atividades similares
VIA EXAME
O empreendedor e o medo: como funciona essa relação?
Por Marcelo Nakagawa, especialista em empreendedorismo
“Sem saber que era impossível, foi lá e fez” é uma frase recorrente em situações de superação. Alguns dizem que a frase é do escritor norte-americano Mark Twain. Outros, do artista francês Jean Cocteau. E muitos já se apropriaram dela.
Mas quantos sabiam que era impossível e nem tentaram? Quantos tiveram medo de tentar? E pior, dos que sabiam que era possível, quais, ainda assim, foram vencidos pelo medo? Neste contexto, aprender a empreender e a nadar guarda muitas relações:
O medo de se jogar na água
Se aprendeu a nadar depois de adulto ou conhece alguém assim, sabe como este medo funciona. Primeiro, o seu outro eu fica questionando: por que aprender a nadar “depois de velho”?
Seu eu grandioso vai alegar que é para se virar em casos de emergência, para aproveitar as oportunidades que sempre perdeu nas suas viagens de férias e para ter uma vida mais saudável. Mas, depois, seu outro eu irá questionar o trabalho que dá aprender a nadar. Seu eu irá reclamar de qualquer coisa para fazê-lo(a) desistir.
E, uma vez na água, você começa a sentir as batidas do coração na sua boca. Seu eu pequeno e grandioso terão sumido e agora só depende de você.
O medo de não “dar pé”
Depois de aprendida as braçadas e pernadas, alguém dentro de você ficará lembrando que em determinada parte da piscina não dá para simplesmente ficar de pé esperando o fôlego voltar. E quando isto acontecer em um rio ou mar desconhecido? Você não entende por que aquele coração disparado o(a) impede de simplesmente boiar. E se não tiver ninguém próximo que possa socorrê-lo(a)?
O medo de nadar em um rio ou mar
Mesmo para quem nada bem em piscina, entrar em um rio ou mar pela primeira vez causa um frio na barriga. E a correnteza, as ondas, as câimbras? Algum animal perigoso?
O medo dos grandes desafios
Muitos já se sentem vitoriosos em simplesmente sair da praia, atravessar as ondas, nadar em alto mar e voltar. Outros poucos se apaixonam pelo esporte e começam a buscar desafios cada vez maiores. Todos estes medos foram vencidos pela paraibana Kay France.
Aos 12 anos, nunca tinha entrado em uma piscina. Aprendeu a nadar dois anos depois e, em 1979, aos 17 anos, foi a primeira brasileira a cruzar os 33 km do Canal da Mancha, entre Inglaterra e França, a nado.
Assim, se tiver medo de se jogar na água e empreender, faça cursos vivenciais de empreendedorismo como o Empretec do SEBRAE ou Startup Weekend. Sentirá as batidas do seu coração quando interagir com clientes, fornecedores e parceiros, mas aprender a dominar suas emoções faz parte do aprendizado.
Se aprender a confiar na sua capacidade de “se virar”, o medo de não “dar pé” diante do desconhecido diminui com um bom planejamento do negócio. Planos de negócio ainda ajudam a reduzir os riscos de negócios mais tradicionais e abordagens como Business Model Canvas, Customer Development e Lean Startup são fundamentais para validar startups mais inovadoras.
Assim, atitude empreendedora e o bom uso das ferramentas de planejamento são as melhores soluções para o medo de entrar em um rio ou mar chamado mercado. Mas não se esqueça de contar com parceiros, mentores e um recurso financeiro para os casos de emergências. O mercado tem ondas, correntezas e a concorrência é animal.
E, depois disso, vale a pena sonhar o sonho grande? Muitos empreendedores já se sentem satisfeitos em ter um grande negócio e não, necessariamente, um negócio grande. Mas preocupe-se com isso quando já tiver construído algo realmente grandioso. A quase totalidade dos grandes empreendedores não sabia que isto era possível fazer tanto quanto optaram por entrar na água.
Quando tiver vencido este último desafio, a frase da Kay France ”ninguém acredita em você até a hora em que você consegue” será o coração da superação de todos os seus medos de empreender. E a nadadora complementa: “A partir daí, todos querem ter uma participação em suas conquistas”.
Marcelo Nakagawaya é professor de Empreendedorismo do Insper.