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Veja como Edivan Costa, da Sedi, venceu a pobreza ao criar o negócio que ajuda empresas a driblarem a burocracia no Brasil
Os olhos de Edivan Costa ganham um brilho diferente quando ele fala em ajudar a reduzir a burocracia para as empresas brasileiras. Empreendedor da Sedi, negócio líder em assessoria e consultoria de licenças governamentais, Edivan aprendeu, entre erros e acertos, a importância de planejar o futuro do negócio sem se esquecer das lições do passado. Hoje, aos 43 anos de idade e 24 anos após fundar a empresa, ele começa a colher os frutos das decisões tomadas na hora certa.
A Sedi emprega 90 funcionários e tem 12 unidades distribuídas pelo Brasil. Companhias de peso, como Lojas Americanas, Riachuelo e Carrefour compõem a cartela de clientes. No entanto, quem se impressiona com o tamanho e relevância do empreendimento não imagina o percurso trilhado por Edivan, desde a humilde infância na periferia de Belo Horizonte até se tornar um grande homem de negócios.
“Aos sete anos, tive o primeiro insight empreendedor. Junto com um amigo, virei catador de papel para ter uma renda, poder comprar meu material escolar e ajudar meu pai com algumas despesas. Não era comum um garoto buscar caminhos como esses”
Desistir, jamais
A capacidade de não se abater diante dos problemas fica evidente quando ele relembra o início da Sedi: “Aos 19, minha irmã me arrumou um emprego de office boy em uma imobiliária. Pouco tempo depois, os sócios da imobiliária romperam. Um deles propôs que me juntasse a ele e a dois advogados, em um escritório voltado para o ramo de imóveis. Não receberia salário e precisaria contribuir com as despesas. Aceitei”.
Ele ainda não sabe explicar o que o fez topar a proposta – provavelmente o desafio, que é o que o sempre o manteve em movimento. “Tem um desafio aqui? Vamos superar. Tem um problema ali? Vamos resolver. Aceito os desafios da forma como eles aparecem”, diz. Edivan seria despachante imobiliário autônomo, função que nunca tinha desempenhado. Estava com 20 anos e precisou abrir formalmente a empresa para fornecer nota fiscal. Colocou o nome de Sedi, acrônimo de Serviços Especializados de Despachantes Imobiliários. Em 2008, o nome mudaria apenas para Sedi.
Com largo sorriso estampado no rosto, o empreendedor não perde o bom humor nem mesmo ao lembrar da fase de vacas magras. “No começo, fazia só uma refeição por dia, para economizar. Enquanto não arrumava cliente, limpava o escritório, datilografava as petições dos advogados e ia ao Fórum. Depois de uns dois, três meses, um dos sócios me passou o primeiro serviço. Foi o dia mais alegre da minha vida”.
Ágil, comunicativo e organizado, não demorou muito para que Edivan começasse a se destacar entre outros despachantes. O boca a boca de um trabalho bem feito e a fama de honesto o fizeram ser indicado ao primeiro cliente importante, os supermercados Mineirão. O contato com o grupo possibilitou Edivan não só alçar voo próprio e se desvincular do escritório de advogados, como a dar uma casa de presente para sua mãe.
“Um dos donos do Mineirão se separou da esposa e precisava partilhar os bens. Eram uns 80 imóveis. Eu tinha 27 anos e foi a primeira vez que realmente recebi um dinheiro de verdade. Resolvi tirar meus pais da favela”, conta.
A história da Sedi se confunde bastante com a trajetória de superação de Edivan. E ela não foi consolidada como passe de mágica: vários momentos decisivos colocaram em xeque a longevidade do negócio. Mas, apesar das dificuldades, a paixão pela leitura foi um dos pilares que ajudou o empreendedor a construir a jornada de sucesso. Comprometido com a evolução da empresa, Edivan teve de deixar de lado o sonho de concluir a faculdade de Direito. Mas nem por isso abandonou a vontade de aprender. Formado, como ele mesmo diz, na escola da vida, buscou nos livros respostas para as principais dúvidas relacionadas à gestão da Sedi.
Com a venda do Mineirão para o Carrefour, Edivan passou a atender a rede francesa. Outros clientes relevantes vieram em seguida. Atualmente, a Sedi oferece serviços como abertura e encerramento de empresas, licenças governamentais e regularização imobiliária.
Profissionalização e expansão
Em 2005, a descoberta do livro “Gerenciamento da Rotina do Trabalho do Dia a Dia”, de Vicente Falconi, o fez perceber a relevância de padronizar os processos dentro da empresa. O choque de gestão desencadeado pela implementação dos conceitos de Falconi criou atritos com Edivaldo Costa, irmão de Edivan, que resultaram na saída de Edivaldo do negócio.
“Foi a primeira decisão realmente dura que tive de tomar. Doeu pra caramba, mas o sonho dele era outro. Ele queria tranquilidade e eu queria fazer tudo acontecer. Foi barra, mas não tinha outra alternativa”
Quatro anos antes da saída do irmão, houve ainda outro momento marcante. Edivan se deparou com o desafio de iniciar a expansão do empreendimento: “Recebi uma proposta de um diretor do Carrefour para atendê-lo no Rio de Janeiro. Não tinha a menor noção de como funcionava a burocracia carioca, mas topei. Deu certo. Esse mesmo diretor foi para Brasília. E me chamou. Fui acompanhando as demandas do Carrefour e, nessa brincadeira, abrimos 11 unidades”.
Tratamento de choque
A procura incessante por novos conhecimentos levou o empreendedor até a Endeavor. Um novo horizonte se abriu quando soube que poderia encontrar soluções para algumas de suas angústias na organização.
“Sabia que tinha algo errado. Na época, tínhamos um faturamento de US$ 7 milhões. Trabalhava, trabalhava e não sobrava dinheiro. As reuniões com os mentores da Endeavor foram um tratamento de choque. Não tinha noção nenhuma do que era planejamento estratégico, fluxo de caixa e Ebitda”, lembra.
A base teórica adquirida ao tornar-se Empreendedor Endeavor em 2009 coincidiu com um período financeiro turbulento. Os estudos fizeram Edivan perceber que as finanças da empresa iam de mal a pior. Com o agravamento do problema, em 2011 ele enfrentou outra difícil decisão, dessa vez junto à sua irmã Églima. Sócia de Edivan desde 1996, ela detinha 50% de participação no negócio e cuidava do financeiro e do administrativo.
“A empresa estava quebrada e agora eu tinha noção do que isso significava. Chamei minha irmã e disse: ‘ou você sai para aprender o que aprendi, ou vou comprar a sua parte’. Ela precisava entender que o empreendedor está em último lugar na empresa. Não éramos donos do lucro. Éramos donos de parte do lucro. Depois de muita conversa, concluímos que era melhor eu comprar a parte dela”, afirma.
Apesar da saída de Edivaldo e Églima da Sedi, Edivan ressalta que o rompimento não deixou mágoas e diz que seu objetivo na vida sempre foi dar um pouco de conforto para os pais e os cinco irmãos.
Sonho grande
A burocracia brasileira ainda é um entrave para que muitas empresas saiam do papel ou cresçam. Mas ela nunca intimidou Edivan. Pelo contrário. Segundo ele, o principal objetivo da Sedi é encontrar mecanismos de desburocratizar os processos regulatórios e, assim, incentivar o empreendedorismo no país. “Vi na burocracia uma oportunidade. Ao conhecer as regras e organizar informações desencontradas, é possível ganhar tempo e sair na frente. Sei que a Sedi tem uma função social forte, que podemos mudar a vida de muita gente e criar um ambiente mais amigável para o empreendedor”.
Ao fazer um balanço da história do negócio, Edivan diz sentir uma “pontinha de alegria” e admite que não imaginava que chegaria tão longe. No entanto, a inquietude típica de quem tem grandes aspirações não o deixa 100% satisfeito e o faz vislumbrar o futuro promissor.
“Olho muito para frente. Aprendi a enxergar o negócio como ele pode ser e não apenas como ele é. Adquiri capacidade tão grande de ver adiante, estrategicamente, que posso dizer o que será a Sedi daqui a cinco anos. A Sedi será uma empresa com base tecnológica robusta, capaz de cruzar dados, de integrar governo e empresas para fazer tudo bem mais rápido e reduzir, de fato, a burocracia. Um processo que demoraria 30 dias para ser concluído demorará 10. Crescemos ajudando empreendedores a lidar com a burocracia e nossa meta é minimizá-la ao máximo”.
Garra, persistência e bagagem para chegar lá, Edivan tem.