No dia 30 de janeiro de 2015, na sede da BM&FBovespa, em São Paulo, o Instituto IBMEC lançou o manifesto “A Retomada dos Investimentos e o Mercado de Capitais”. O documento foi distribuído a todos os conselheiros e associados da Instituto e também para representantes das mais diversas entidades do mercado e executivos de grandes empresas do País, além dos mais prestigiosos veículos da mídia especializada.

 

A íntegra do manifesto – que defende “um novo ciclo de desenvolvimento econômico e social de longo prazo, apoiado na retomada dos investimentos e num fortalecido Mercado de Capitais” – é reproduzida a seguir:

 

A Retomada dos Investimentos e o Mercado de Capitais

 

Há uma forte correlação entre o estágio do desenvolvimento econômico das nações e os níveis de contribuição dos mercados financeiros e de capitais para o crescimento de suas economias. No Brasil, o mercado financeiro, em seu sentido restrito de mercado de intermediação bancária ou de extensão de crédito, apresenta uma relação muito baixa em comparação com o PIB, apesar do forte crescimento dos últimos anos, quando atingiu cerca de 70,7% do PIB, se confrontado com países como Estados Unidos (192,3%), Alemanha (199,6%), China (140,0%) ou Japão (188,3%). (Fonte: Banco Mundial- Credito doméstico ao setor privado (% do PIB) 2013)

 

Nos Estados Unidos, o Mercado de Capitais contribui com cerca de 20% para a formação bruta de capital, enquanto no Brasil mal atinge 11%. Inflação e juros elevados, combinado com créditos subsidiados de bancos oficiais, são os seus maiores inimigos.

 

Desde 1964-65, governos vem desempenhado um papel relevante no desenvolvimento dos mercados, mas suas políticas têm sido ciclo tímicas. A necessidade de financiamento dos déficits públicos com emissão de títulos associada à pratica de subsídios a empresas ou a alguns setores da economia tem sido recorrente. O resultado é frustrante – principalmente para empresas e agentes do Mercado de Capitais.

 

Em 1980 e 1990 o valor de mercado das empresas listadas em bolsa não ultrapassava 3% do PIB. O sucesso no combate à inflação, obtido pelo Plano Real, criou novas condições para uma contribuição relevante do Mercado de Capitais ao desenvolvimento econômico e social do País.

 

Uma bem-sucedida parceria do mercado com o governo, com o lançamento do Plano Diretor do Mercado de Capitais, a partir de 2002, apresentou excelentes resultados até 2008, ano em que ocorreu a crise internacional.

 

Fonte: Plano Diretor de Mercado de Capitais

Fonte: Plano Diretor de Mercado de Capitais

 

A consolidação das entidades do mercado, a partir desse sucesso, mostra que o setor privado está preparado para participar de um novo esforço de parceria público-privada para garantir um desenvolvimento econômico e social de longo prazo para o Brasil.

 

O Instituto IBMEC lançou, em 2013, a Estratégia Nacional de Acesso ao Mercado de Capitais voltada para a informação, educação e capacitação de seus usuários de norte ao sul do país. Hoje contamos com o apoio das entidades do setor, muitas delas já desenvolvendo suas próprias ações junto ao seu segmento de clientes.

 

Países asiáticos como China, Índia, Coreia, Tailândia e outros que sequer tinham Mercados de Capitais no final da década de 70, souberam desenvolve-los e transformá-los num instrumento poderoso para apresentarem o crescimento econômico mais extraordinário das últimas décadas, como pode ser observado na tabela abaixo:

 

Dados de 2014: PIB – US$ bilhões Fonte: WFE

Dados de 2014: PIB – US$ bilhões Fonte: WFE

 

No atual cenário macroeconômico o mercado de capitais adquire importância estratégica para a retomada do investimento e do crescimento da economia brasileira.  

 

Existem sólidas razões para isso. A infraestrutura é um dos únicos setores em condições de dar início a uma recuperação do investimento, de vez que tem forte demanda por seus serviços e cuja expansão constitui hoje um movimento essencial para aumentar a produtividade da economia.

 

Estudo do Centro de Estudos do Instituto IBMEC-Cemec mostra que a maioria das empresas não financeiras dos demais setores enfrenta condições negativas para investir. Desde 2010 tem ocorrido acentuada queda de rentabilidade e da geração de recursos próprios dessas empresas[1],  ao mesmo tempo em que a expectativa de baixo crescimento da economia e da demanda tem contribuído para inibir decisões de investir.

 

É imperioso elevar o investimento em infraestrutura, cujas deficiências explicam parcela considerável das deficiências de  produtividade e de competitividade  da economia brasileira. Direta e indiretamente o setor público tem tido participação dominante no financiamento de investimentos em infraestrutura previstos nos contratos de concessão.

 

Entretanto, nas atuais condições das contas fiscais, não será possível ao setor publico manter essa participação, seja diretamente seja via transferência de recursos do Tesouro para sustentar financiamentos subsidiados do BNDES.

 

Desse modo o aumento da participação de fontes de recursos de poupança para financiar os projetos de infraestrutura é condição indispensável para viabilizar a realização desses investimentos. Os instrumentos e veículos do mercado de capitais, na forma de ações, títulos de divida corporativa, fundos de investimento são os principais mecanismos de mobilização e alocação da poupança privada  em favor dos investimento em infraestrutura.

 

O desafio é otimizar a sinergia entre mercado de capitais,  BNDES, bancos privados e companhias de seguros.

 

As prioridades formuladas pela equipe econômica de controle fiscal, redução de juros e subsídios e permanente combate à inflação nos dá confiança que, superados os ajustes ao longo de 2015, teremos um novo ciclo de desenvolvimento econômico e social de longo prazo, apoiado na retomada dos investimentos e num fortalecido Mercado de Capitais.

 

Rio de Janeiro 26 de janeiro 2015

Instituto IBMEC Mercado de Capitais

 

João Paulo dos Reis Velloso

Presidente do Conselho

Thomás Tosta de Sá

Presidente Executivo 

 

[1] V. (11/2014) Rocca, Carlos A. e Santos Jr., Lauro M. – Redução da taxa de poupança e o financiamento dos investimentos no Brasil : 2010-2014 – Estudo Especial CEMEC – Centro de Estudos do IBMEC – Novembro de 2014 – www.cemec.codemec.org.br